A creatina já foi até proibida e, por causa disso, ainda é associada a problemas de saúde, em especial renais. Mas será que isso é verdade?
A creatina é hoje um dos suplementos mais conhecidos, usados e recomendados do mundo da musculação. Mas nem sempre foi assim.
Você sabia que a creatina já foi proibida no Brasil? Tudo por causa de alguns estudos da década de 90 que não comprovavam a segurança nem a eficácia do uso da substância como alimento – o que obviamente mudou com o avanço das pesquisas.
Uma das consequências apontadas pelos estudos da época era de que existiam “fortes evidências de que a creatina era responsável por deterioração na função renal”. E, por isso, surgiu a ideia de que a creatina causava pedras nos rins.
A famosa revista esportiva francesa L’Equipe, inclusive, foi uma das publicações responsáveis por divulgar essa teoria, quando alarmou seus leitores sobre o perigo da suplementação em quaisquer condições. E essa notícia foi rapidamente repercutida por toda a Europa.
Nesse período, foram atribuídos diversos efeitos prejudiciais à creatina, como disfunção renal, alterações hepáticas e até mesmo a morte. De fato, os próprios pesquisadores Pritchard e Kalra contribuíram para isso, ao ligarem o consumo desse suplemento à morte de três lutadores de luta greco-romana.
Hoje, já se sabe que a creatina nunca esteve associada a esse episódio, e investigações policiais concluíram que apenas um desses sujeitos suplementava com creatina. No entanto, o estrago já estava feito, e por causa dessa e de outras especulações, a creatina foi proibida em diversos países, incluindo o Brasil, onde a Anvisa baniu a substância em meados de 1998.
De lá para cá, tudo mudou. Novos e mais avançados estudos garantiram a segurança e os benefícios da creatina e, não por acaso, a Anvisa reviu sua norma e liberou a comercialização do produto no país a partir de 2010.
Desde então, o produto se popularizou e, graças aos seus diversos benefícios – que a gente já abordou neste outro post – é um dos mais consumidos nas academias.
Por que a creatina foi associada a disfunção renal?
A creatina aumenta a creatinina, que por sua vez é usado como um marcador de função renal.
Indivíduos que usam a substância podem, eventualmente, ter aumento desse marcador, mas isso não significa necessariamente, um comprometimento renal.
Para monitorar a segurança da creatina não se deve usar apenas o marcador creatinina. Muitos estudos da época usavam esse tipo de marcador, o que tornava uma conclusão escassa.
É importante usar outros tipos de marcadores que não dependam do metabolismo da creatina, ou seja, que não seja influenciada com o uso do suplemento.
E é assim que os estudos mais recentes foram conduzidos.
E por que é permitida no Brasil hoje?
Atualmente, são bem documentados os efeitos ergogênicos da suplementação de creatina em atividades intermitentes de alta intensidade e curta duração
Há uma boa base científica para se afirmar que esse suplemento, quando consumido de acordo com as recomendações apropriadas, não trazem prejuízos à saúde do praticante de atividade física saudável.
Com a necessidade de atualização da Portaria SVS/MS n. 222/1998 por parte da Anvisa, verificou-se que os consensos científicos (nacional e internacionais) sobre o tema apresentavam nova fundamentação científica que comprovava a segurança e a eficácia da creatina para atletas em exercícios repetitivos de alta intensidade e curta duração.
Este estudo, por exemplo, garante que não há disfunção renal ao suplementar com a substância. Neste outro, os autores verificaram que a suplementação de creatina em grande dosagem e por um longo período (aproximadamente 10 g/dia durante três meses) não prejudicava a função renal.
Apesar de não existirem estudos longos com o uso de creatina o suplemento tem um perfil bom de segurança com os estudos já publicados.
Conclusão
Apesar da existência de alguns relatos de caso na literatura indicando que a creatina possa prejudicar a função renal, não há evidências sustentáveis de que essa substância apresenta riscos a homens saudáveis.
Àqueles com algum risco de doença renal pré-existente, recomenda-se a monitoração sistemática até que se ateste a segurança da suplementação, mas, para pessoas saudáveis, o risco é praticamente zero.
A única recomendação é não ultrapassar a quantidade de 5g por dia, pois não há evidências científicas suficientes que garantam a segurança da ingestão acima dessa dosagem, à longo prazo. Até este valor, o consumo é totalmente seguro segundo a ciência.
Quando feita com acompanhamento de um profissional e que respeite a dosagem, a suplementação de creatina é eficaz e segura.
Fonte: feitodeiridium