Alimentação no Inverno

Com a chegada do frio, há muitas dúvidas sobre o que fazer para manter hábitos saudáveis que protejam contra essa variação de temperatura e contribuam para reforçar a imunidade. A nutricionista Tatiana Gois, de Londrina, explica que nos dias frios o nosso corpo procura se aquecer aumentando o consumo de calorias. “No frio há uma tendência de aumento do gasto energético para elevar a temperatura do corpo. O cardápio nessa época do ano vai depender do objetivo da pessoa. Se o objetivo for o emagrecimento, deve continuar com os alimentos não calóricos.”

No outono e no inverno a má alimentação pode elevar o colesterol “ruim”. Esse aumento está ligado ao consumo de alimentos gordurosos e à diminuição da prática de atividade física, já que as pessoas tendem a fazer menos exercícios. Gois explicou que muita gente aumenta a ingestão de alimentos calóricos, mas é preciso moderação. “Tudo o que for em excesso pode fazer mal. A pessoa deve evitar o consumo de gordura saturada, que é encontrada em produtos como o creme de leite, bacon e queijos amarelos. Nesta época do ano é mais comum que as pessoas consumam alimentos mais pesados como a feijoada, mas é preciso tomar cuidado com esse tipo de alimento”, reforçou. É o caso do analista de sistemas Rodrigo dos Santos Aranda, que confidenciou que no frio come mais feijoada. “Eu não essa preocupação se vou ganhar peso.”

A advogada Andréa Fernandes Araújo disse que come menos saladas. “À noite tento balancear, mas no almoço procuro comidas mais quentes, com mais carboidrato. Isso me dá uma sensação de saciedade, de conforto e de me aquecer ao mesmo tempo.”

Segundo a nutricionista, o recomendável é manter o consumo de frutas, verduras e legumes, porém, muitas pessoas acham difícil ingerir salada crua. “Existem muitas verduras e legumes que podem ser feitos refogados ou cozidos, podem ser usados em sopas e caldos. A pessoa também pode fazer uma macarronada com legumes, por exemplo. Tudo isso para ter sempre verduras e legumes principalmente nas duas refeições mais importantes do dia, que são o almoço e o jantar”, aconselhou.

Gois ressaltou a importância da hidratação. A recomendação é beber cerca de dois litros de água por dia. “Nosso corpo é composto por 70% de água, mas com o frio a gente não transpira e e não sente tanta sede, e acaba esquecendo de tomar líquidos. Em qualquer época do ano a água é fundamental para o bom funcionamento dos órgãos. Se ficar difícil beber água, aumente ingestão de caldos e chás quentes. Sopas também são bem-vindas para se hidratar”, sugeriu.

GRIPE

A nutricionista afirmou que não existe um alimento “milagroso” que previna doenças como a gripe. “A pessoa tem que ser saudável no geral e deve ter cuidado com a alimentação como um todo. A ingestão de frutas e verduras proporciona ao organismo uma gama variada de vitaminas que é boa para a imunidade. Não adianta tomar água com gengibre e limão e no restante das refeições fazer de maneira errada”, advertiu.

Sobre o hábito de aumentar o consumo de alimentos ricos em vitamina C neste período de frio, a nutricionista apontou que ela não tem poder de tratar doenças, mas ajuda a fortalecer as defesas do corpo. “Seu consumo durante quadros infecciosos reforça o sistema imunológico. Isso faz com que as defesas de nosso corpo tenham melhores condições para brigar contra vírus e bactérias, acelerando a recuperação do organismo”, destacou. Entre os alimentos ricos em vitamina C estão a acerola, a laranja, a goiaba e o tomate. “O mais importante é possuir um estilo de vida saudável, consumindo carnes magras, cereais integrais e realizando a prática de exercícios físicos associada ao aumento de consumo de líquidos.”

‘Há riscos de alteração arterial’

O bancário José Luiz Corsini, 58, confessa sua predileção por massas e feijoada. “Consumo mais esses pratos no inverno. Eu como por prazer, não é para manter o corpo aquecido”, afirmou. Porém, exames realizados nos últimos meses apontaram alguns problemas. “Deu tudo alterado, os exames apontaram que estou com colesterol alto e pressão alta”, revelou ele, prometendo que irá mudar alguns hábitos. “Eu estou me controlando. Pretendo alterar a minha alimentação e vou fazer um pouco mais de caminhada”, prometeu.

O cardiologista Willyan Issamu Nazima confirma que no inverno há uma tendência a ingerir alimentos mais calóricos. “Existem receptores na pele sensíveis ao frio e quando as temperaturas baixam sensibilizam esses receptores. E uma forma fisiológica de reter o calor é a vasoconstrição”, destacou. A vasoconstrição é a diminuição do diâmetro dos vasos sanguíneos. “Ela pode acontecer nas artérias coronárias e isso pode predispor a eventos cardíacos. No inverno há riscos de alteração arterial e isso pode desencadear gatilhos de arritmias”, explicou. “Com isso o sangue é redirecionado para áreas centrais como coração, cérebro e órgãos abdominais e circula menos nas regiões periféricas como mãos e pés”, apontou. É por este motivo que muitos sentem frio nas extremidades do corpo.

Essa vasoconstrição é mediada por substâncias semelhantes a adrenalina que podem fazer a pressão arterial elevar e favorecer o aparecimento das arritmias cardíacas. Nazima apontou que por este motivo pacientes cardiopatas devem tomar cuidados no inverno e não deixar que a temperatura baixa eleve a pressão arterial e favoreça arritmia.

Nazima apontou que não existem estudos científicos na medicina tradicional sobre os benefícios de chás, sopas e caldos no inverno, no entanto bebidas quentes levam ao bem-estar e à vasodilatação. “Pelo menos é seguro, desde que não haja excesso de sódio na sopa”, apontou. “Pessoas cardiopatas devem ter cautela com a alimentação e bastante cuidado com o excesso de sódio e carboidratos.”

No frio, diz ele, o organismo precisa acelerar o coração e existem alterações circulatórias que em temperaturas baixas acabam reduzindo a chegada de oxigênio. “Quem pratica atividade física tem que ter proteção contra o frio. Mesmo paciente sem cardiopatia deve ter cuidados nessa época do ano”, apontou. “Existem roupas especificas que reduzem a perda de calor no inverno e há alguns tipos de tênis que possuem isolamento térmico um pouco maior. A rigor é preciso tentar proteger a superfície corporal, principalmente rosto, membros superiores, tórax e a sola dos pés, que são as regiões mais atingidas pelo frio.”

Aos que possuem doenças crônicas, ele ressaltou a necessidade de acompanhamento constante dos dados biométricos. “O principal é monitorar pressão arterial e analisar sintomas como dor no peito e palpitações. Caso sinta qualquer um desses sintomas recomendo procurar atendimento médico.”

‘Receita caseira tem um fundo de verdade’

A otorrinolaringologista Rosana Emiko Heshiki, de Londrina, afirma que não há trabalho científico na medicina tradicional comprovando a eficácia do consumo de chás com gengibre ou alho, ou mel e limão no combate à gripe. “Trata-se de uma prática popular e que tem efeito anti-inflamatório, por isso popularizou”, destacou. “A medicina tradicional não indica, mas não é contra. Se o paciente acredita que vá melhorar e o cérebro ‘compra’ essa crença, acaba melhorando a imunidade. Nesse sentido está se fazendo alguma coisa. Mas eu não prescrevo”, declarou.

Sobre a ingestão de alimentos como a canja de galinha para se recuperar, ela explica que esse prato tem propriedades nutricionais para melhorar a imunidade. “Uma pessoa debilitada com virose, que não está com fome e tossindo muito, ao consumir a canja estará ingerindo proteína, verdura e legumes. Isso indiretamente melhora a imunidade da pessoa. Além disso, a canja está aquecida e o calor no local tem efeito anti-inflamatório. A receita caseira da mamãe tem um fundo de verdade”, afirmou.

Heshiki explica que tanto a gripe como o resfriado têm causa viral. “O resfriado é mais comum e é menos agressivo. A pessoa tem coriza e depois de três dias começa a melhorar. Já a gripe é mais agressiva e, além dos sintomas nasais, a pessoa tem febre alta e dores no corpo.”

Ela ressaltou que o combate a esses vírus depende da imunidade. “Os sintomas de um resfriado duram em média três dias e os da gripe duram sete dias. Mas alguns vírus são agressivos e o prazo de sete dias pode causar tanto dano, que pode levar a complicações pulmonares e um paciente pode a ir a óbito, dependendo do estado imunológico da pessoa. Há viroses com sintomas exagerados, que a pessoa não consegue ficar de pé”, apontou.

Ela explicou que quando se está com gripe é preciso ingerir bastante líquido e evitar atividades que exigem esforço físico. “A atividade aeróbica diminui a imunidade. É preciso descansar e fazer uso de medicação indicada para cada caso”, apontou. Dependendo do paciente e sua condição o médico pode avaliar a necessidade de se associar a medicação ao uso de antivirais.

 

Fonte: Folha de Londrina

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