Atividade física é um auxílio ao portador de deficiência, podendo melhorar sua mobilidade, autoestima e promover socialização.
A prática de atividades físicas e esportivas deve ser um direito de todos. O discurso é bem humano, mas, na prática, isso nem sempre acontece. Muitas vezes, o acesso às academias, estúdios e clubes não têm condições que facilitam a acessibilidade e mobilidade de portadores de deficiência. Segundo a advogada Joana Doin, sócia do escritório Joana Doin Consultoria Jurídica e especializada no segmento fitness, “as academias devem dispor de condições para atender pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida”.
Lei nº. 10.098/2000 estabelece regras de acessibilidade nos edifícios de uso coletivo
A regra é clara. As normas estabelecidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), conforme NBR9050/04, não trata apenas do deficiente motor, mas também do auditivo e visual. Por isso, proprietários devem estabelecer critérios e parâmetros técnicos desde o projeto, construção, instalação e adaptação de seus espaços às condições de acessibilidade.
Acessibilidade x fiscalização
No entanto, Patricia Totaro, arquiteta titular da Patricia Totaro I Arquitetura de Resultados, afirma que grande parte dos profissionais de Educação Física se preocupa em adaptar seus espaços quando são visitados pela fiscalização. “É uma coisa que eu não entendo, pois já que estamos em um mercado ligado à saúde e ao bem estar, deveríamos ter uma maior preocupação com todos os seres humanos”, diz Patricia, afirmando que “as academias que são acessíveis a todos, e divulgam isso, ganham até pontos com os clientes, que se sentem mais conectados com a academia, pois se identificam com a iniciativa”.
Quando um projeto novo é concebido totalmente acessível, as soluções já estão integradas ao ambiente
Por isso fica muito mais barato do que uma reforma completa do local. “Essas intervenções podem ser muito simples ou muito complexas, dependendo da situação existente, então não é possível ter uma média do valor de uma obra, mas existem ferramentas básicas que melhoram o ambiente para esse público”, explica Patricia.
O mínimo para a acessibilidade
“Muitos clientes me perguntam por que devem se adaptar se não atendem cadeirantes. Porém, quando questionamos os fiscais e os órgãos reguladores neste sentido, a resposta é que mesmo não atendendo a deficientes, se é um lugar aberto ao público, todos devem conseguir circular”, explica Patricia. Segundo ela, não existe área mínima de academia ou tipo de estabelecimento que não esteja sujeito a ser adaptado.
O ideal é existir um vestiário masculino e um feminino, com chuveiros, vasos sanitários e pias adaptadas. Os itens podem ser colocados dentro dos vestiários comuns ou construídos a parte. Para o deficiente, é mais confortável estar em um banheiro exclusivo, por conta da movimentação limitada. Porém, quando instalações adaptadas fazem parte do vestiário comum, elas podem ser usadas por não deficientes. Ao contrário das vagas de estacionamento, as instalações sanitárias não são de uso exclusivo do deficiente. Elas podem ser usadas por qualquer um, o deficiente somente tem preferência. Vale lembrar também que a circulação tem dimensões mínimas. Não adianta fazer um vestiário adaptado se o cadeirante não consegue ir até ele. Para andar em linha reta, a passagem mínima para a cadeira de rodas é de 90cm, sendo que para fazer uma curva de 90 graus, é necessário um espaço de 1,20m, e para uma curva de 180 graus, é necessário no mínimo 1,50m.
Já no caso da rampa de acesso, há uma tabela de inclinação versus desnível a ser vencida. Essa inclinação varia de 5% a 8,33%, sendo aceita em casos que eles chamam de excepcionais, se comprovado que não há outra solução. Rampas com inclinação de 10% são para desníveis de no máximo 20 cm. Para desníveis grandes, em geral, é inviável colocar uma rampa, pela área que a mesma ocupa. Nesse caso, parte-se para plataforma para desníveis até 4 m de altura, e por fim, para o elevador. Não é obrigatório deixar o elevador livre para o uso de todos, sendo sujeito somente para pessoas com dificuldade de locomoção.
Aos espaços com piscinas, exige-se que o piso no entorno das mesmas não tenham superfície escorregadia ou excessivamente abrasiva, além das bordas e degraus de acesso à água que devem ter acabamento arredondado. Qualquer acesso à água deve ser garantido através de degraus, rampas submersas, bancos ou equipamentos de transferência.
Os balcões de atendimento também devem ser adaptados, e devem ter uma parte mais baixa, com espaço para as pernas do cadeirante. Além disso, deve ser prevista uma porta ou portinhola de acesso, pois a catraca é impeditiva. No caso da vaga de estacionamento, deve haver alguma destinada exclusivamente ao deficiente. Já para deficientes visuais, indicações em braile e piso tátil são fundamentais.
O profissional de Educação Física e o aluno deficiente físico
Além dos equipamentos, que devem ser mais práticos e funcionais para possibilitar o fácil acesso com segurança e aumentar a motivação da pessoa com deficiência, o profissional de Educação Física deve estar preparado para lidar com esse público. A atividade física melhora as capacidades físicas, postura, mobilidade e independência da pessoa com deficiência física, porém com um bom atendimento é possível melhorar autoestima, autonomia e qualidade de vida desse aluno.
Uma pesquisa realizada pela ONG – Deficiente Saudável, afirma que em algum momento da vida 10% da população terá algum tipo de deficiência, seja permanente ou provisória (o aluno da academia pode quebrar a perna e continuar a praticar exercícios para os membros superiores, por exemplo). A pessoa que sofre um acidente e perde permanentemente o movimento, tende a sofrer depressão, o que atrapalha o processo de fisioterapia e de volta às atividades de trabalho ou estudo. “A atividade física é um aliado incrível para melhorar a autoestima destas pessoas e consequentemente a saúde como um todo. Vamos tentar quebrar esse preconceito de não atender aos deficientes”, incentiva Patricia.
A prática da atividade deve ser realizada com acompanhamento adequado e com o auxílio de profissionais habilitados
“Nesses casos, além da estrutura, deve-se observar com mais cuidado a exigência de exame médico e acompanhamento do profissional de Educação Física. Deve-se exigir autorização médica para os exercícios, que indicará ao professor os cuidados a serem tomados e quais exercícios devem ser evitados”, explica Joana, acrescentando que “é importante frisar ao aluno que essa atividade não substitui a fisioterapia, quando haja indicação médica para tal. Há casos que é recomendável o contato entre o professor e fisioterapeuta do aluno, para que estes consigam realizar um trabalho complementar”.
Para Artur Hashimoto, treinador consultor do Core 360º, algumas universidades conseguem preparar o profissional para atender esse público, porém, é necessário sempre estar atualizado para um melhor desempenho com esses alunos. “No meu caso, para algumas deficiências como, deficiência visual e Síndrome de Down, eu tive o preparo adequado na minha graduação. Todo professor de educação física deveria doar dois dias da semana (1h hora por dia) para treinar pelo menos uma pessoa com deficiência”, opina Artur. “Para mim, o maior retorno é saber que com algumas ações simples, podemos entregar ao cadeirante mais autonomia”, conta. Este é um nicho que já é explorado por certas academias no país, as quais ampliaram o número de possíveis usuários, e assim, aumentaram as possibilidades de trabalho dos profissionais de Educação Física.
Fonte: educacaofisica.com